“Recordações Memoráveis da Família do Diretor...”

Quarta-feira, 03 de setembro de 2008

Amado e adorado diário, como vai? Tudo bem com você?
Bom, vou falar da literatura de cordel que a nossa 4ª série ficou responsável. Nós fizemos um cartaz lindo com prendedores todos enfeitados para colocar na exposição folclórica e também expusemos um baú com vários livros.
O diretor Cláudio nos emprestou um livro que pertenceu ao pai de sua esposa Marisa, chamado “Meu livro de Cordel” de Cora Carolina e pediu para nossa professora Carminha tomar muito cuidado com ele. Sabe por quê? O livro possui uma dedicatória para o senhor Rubens Cabral de Oliveira, sogro do senhor Cláudio. E tem mais, a autora Cora Coralina fez um poema chamado “A Casa do Berço Azul” dedicado à família da dona Mariza, que possui um berço de ferro que parecia uma gôndola. O poema faz uma descrição da casa, das pessoas e cita o berço azul que lá existia. O diretor Cláudio contou para nós que o berço passa de geração a geração e também pertenceu a um de seus filhos. Com o tempo o berço foi se desbotando e sendo pintado de acordo com o gosto de cada um que o utilizava.
Querido diário, é uma história linda essa, você não acha? Eu vi como para a família do diretor é importante ter um berço que foi citado por Cora Carolina,uma escritora que faz parte da literatura brasileira. Ela viveu em Jaboticabal e por isso teve contato com a família da dona Marisa. No final eu vou mostrar a você uma foto do berço. A escola está tentando recuperar a memória das famílias dos alunos. Que todos contem suas historias para fazer parte do memorial. Eu acho que tudo isso que te contei nada mais é do que recordar um assunto muito agradável, principalmente para mim, que gosto de ler e escrever. A professora leu o poema para nós e ele é muito bonito.
Tchau diário.
Beijos e abraços com saudade do passado...
Isabela

P.S.: A dona Mariza esteve visitando a nossa exposição e a professora Daniela da 3ª série B fez uma brincadeira com ela com um secador de cabelos antigos.


A Casa do Berço Azul (Cora Coralina)

Dona Marcionilha e seu Chico Fiscal.

Era a casa deles.
Gostavam de flores, de vasos e de roseiras.
Um quintal muito grande de fruteiras fartas e escolhidas.
Criação de lebres e de coelhos, da meninada.
Gaiolas dependuradas.
Alçapões. Balanços pelos galhos.
Meninos brincando.
Meus e deles.
Passarinhos.
Frutas maduras pelos galhos, pelo chão.
Geração passada...

A Casa do Berço Azul...
Minha casa amiga...
De dois em dois anos, descia do alto da parede da despensa,
onde ficava ancorado o barquinho de uma nova vida,
prestes a chegar.
Vinha para aterra o pequenino barco.
Seu Chico tomava um pincel e uma lata de tinta
e repeintava o berço, sempre de azul. Renovava o pequeno colchão,
o pequeno travesseiro cheio de paina fina e nova.
Pela casa, panos macios, flanelas,
claros agasalhos, camisinhas, bordados delicados,
rendas, e sempre ela tricotando um xale de lã azul,
que mostrava sorrindo e feliz às suas amigas.

A liturgia foi assim, anos repetidos.
Apenas três vezes o berço mudou de cor:
Três meninas: Maria, Cacilda e Ercília.
Voltou ao azul: Wilson, Chiquinho e Válter.
Nunca se negaram àquela fecundidade modesta, tranqüila e consciente.

Bom Pai, boa Mãe, Bons amigos.
Minha gente!...
Voltei à velha cidade de Pinto Ferreira,
antiga fábrica de Nossa Senhora do Carmo de Jaboticabal,
no sabor antigo dos autos cartorários.

Antiga rua. Velhas casas.
Passei longa, silenciosa e atentamente,
perdida numa bruma pretérita.
Batia de porta em porta e perguntava:
"É aqui a Casa do berço Azul?"
"Não, não é esta".
Eu ficava sozinha, incerta.
Uma lágrima me dizia: "Não, não chora".

Uma jovem esposa no passeio.
Pesada e linda, numa veste solta.
"Minha jovem, será esta a Casa do Berço Azul?"
A jovem sorriu, olhou e não entendeu.
Nunca poderia me entender,
era imensa a distância que nos separava.
Adiante, uma senhora, cabelos grisalhando.
Perguntei: "Será esta a Casa do Berço Azul?"
"Não, não é aqui, nem ali, nem adiante, nem para os lados", disse ela.
"Não procures jamais o passado no presente.
Olha, sobe, vai caminhando, cruza ruas e avenidas.
Lá bem no alto, de onde se avista a cidade,
verás um portão largo, sempre aberto.
Entra.
Encontrarás construções diferentes,
pequenas e maiores.
Brancas, rosadas, escuras, tristes, floridas.
Silenciosas.
Numa rua estreita,
numerada como todas,
encontrarás adormecidos teus amigos,
juntos para sempre na morte como o foram na vida".

Longe, muito longe na distância,
ficou perdida para sempre
como sombra que se apaga, a Casa do Berço Azul.









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